terça-feira, 14 de outubro de 2008

Livro 1 - Hilino e as Pedras do Poder - Primeira Parte

Faltava apenas alcançar a pluma branca, de todas que já havia coletado. Elas rodopiavam ao vento, como que dançando, leves, livres. Seus pulos eram longos, em câmera lenta. Esticava os braços, mas não conseguia alcançá-la. As demais estavam na mão esquerda e a branca agora ia em direção ao mar. Correu por uma ponte de madeira que entrava na água, suspensa por pneus velhos pintados de vermelho. A pluma estava fora de alcance. Não havia outra maneira de pegá-la senão pulando. Pensou por uns instantes, respirou fundo e pulou.

– Chegamos querido!

As palavras soaram como um susto.

– Hilino? Está acordado?
– Hã? Ah...sim...
– Chegamos.

O garoto ergueu um pouco o corpo franzino desajeitadamente esticado no banco. Levantou o rosto meio de lado e olhou pela janela. O carro passava pela orla, numa praia deserta. Eram 9 horas da manhã de um sábado de sol de inverno. Algumas gaivotas descansavam sobre pedras perdidas na areia, agradecendo pela ausência do burburinho dos turistas do verão. Ao longe, podia-se ver uma casinha solitária no topo de uma montanha perto do mar. Hilino estranhou.

– Não mora ninguém aqui?
– Claro que mora. É que estamos na entrada da cidade.
– Lugar estranho. Esquisito...

Sua mãe virou-se para trás, dando 3 apertões carinhosos em seu joelho.

– Pare com isso, Hilino. Deixe de ser implicante. Vou abrir o vidro. Viu só? Sinta o cheirinho do mar. Você vai gostar muito mais daqui do que de São Paulo. Aquela poluição toda que nos deixa pálidos, branquelos. Aquela barulheira toda. Chega de engarrafamentos, violência...

Dona Nora continuava falando, mas sua voz foi sumindo na medida em que o pensamento de Hilino voava longe. Suspirou lembrando de São Paulo, da escola, de seu prédio. Do bolo de fubá que sua avó costumava fazer à tarde, enquanto jogava video-game com o Zeca sentado no puf azul. Uma lágrima teimosa salgou-lhe a face. Tudo era passado agora.

Dona Nora guiava o fusquinha azul com esperança nos olhos. Sentia a brisa úmida da maresia pedindo para que tudo melhorasse. Desde que sua mãe falecera, só pensava em sair de São Paulo e ir morar num lugar tranqüilo, onde pudesse começar de novo, da estaca zero.

– Mãe, preciso fazer xixi.

Agora eram as palavras de Hilino que lhe cortavam os pensamentos.

– Não dá para esperar um pouco, filho? Estamos quase chegando.
– Não, mãe...tô apertado.

Nora encostou o carro próximo à praia. Desceram.

– Está vendo aquelas pedras ali na areia? Vá lá fazer seu pipi enquanto eu molho os pés na água.
– Tá bom.

Nora tirou as sandálias e foi correndo para o mar, segurando a barra do vestido creme de rendas brancas, presente de despedida das suas colegas na escolinha onde dava aulas em São Paulo.

– Tome cuidado!, avisou ao garoto, que já estava a caminho das pedras.
Hilino caminhou pela areia fofa até umas pedras grandes que ficavam na ponta direita da praia. O Sol refletia no mar formando um enorme espelho amarelado. O garoto suspirou meio aborrecido. O que ele iria fazer naquele lugar? Sem prédios, shoppings, fliperamas? Perto das pedras, havia umas plantinhas verdes, fincadas na areia. Foi até elas, escondendo-se atrás da rocha para fazer seu pipi. Eram quatro pedras grandes e altas, que formavam um círculo. Notou que perto de uma delas havia um caminho de plantas, parecidas com grama, indo em direção à ponta da praia. Achou estranho e foi curiosamente bisbilhotar onde elas levariam. Caminhou até elas e, de repente, num grito assustado faltou-lhe o ar. Ele havia caído num buraco na areia, que estava coberto pelas plantas. Devia ter cerca de um metro e meio de profundidade. Estava estranhamente quente dentro dele. Pensou em gritar por ajuda, quando notou uma luz vermelha intensa saindo de uma espécie de caverna próxima ao chão. Estranhou e foi ver o que era. Agachado, entrou na fenda e, tateando, encontrou uma pedra vermelha pequena e luminosa. Quando a tocou, sentiu um formigamento intenso na ponta dos dedos, que o fez soltá-la de volta.

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